Dar voz ao professor é preciso

Dar voz ao professor é preciso

Dar voz ao professor é preciso para que sua prática seja compreendida como parte de um coletivo que constrói a sociedade. A docência é uma profissão que transcende o ato de ensinar conteúdos. Como sujeito histórico, o professor reflete o contexto social em que vive, levando à sala de aula não apenas seu saber, mas também suas experiências, desafios e necessidades. Ao reconhecer que o habitus professoral, como proposto por Pierre Bourdieu, é moldado por suas práticas, condições sociais e institucionais, torna-se evidente que ouvir os professores é essencial para que a educação passe por transformações necessárias e urgentes, na prática.

Dar voz ao professor é reconhecer o seu valor

O professor é mais do que um transmissor de conhecimento; é um formador de opiniões e cidadãos conscientes de seus direitos e deveres em uma determinada sociedade. Dar voz ao professor é preciso para que ele expresse suas necessidades e desafios, tanto pessoais quanto profissionais. As demandas da profissão impactam diretamente sua saúde física, emocional e econômica. O pesquisador e escritor português Antônio Nóvoa destaca a impossibilidade de um professor separar suas demandas pessoais das profissionais. A ação docente exige muito desse profissional.

Em muitas escolas, os professores enfrentam jornadas duplas ou triplas para complementarem suas remunerações uma vez que um período ou dois de trabalho é insuficiente. Como aponta António Nóvoa, é imprescindível valorizar o protagonismo docente para que esses profissionais possam exercer seu papel com dignidade. Essa valorização passa não apenas por melhores salários, mas também por condições de trabalho que respeitem o tempo necessário para preparar aulas, corrigir atividades, corrigir avaliações e se atualizar pedagogicamente.

Portanto, é essencial que os gestores educacionais escutem os professores e promovam políticas que atendam suas demandas. Professores motivados e respeitados desempenham suas funções com mais eficiência, contribuindo para uma educação de qualidade.

Dar voz ao professor contrbui para a superação de desafios

Dar voz ao professor é preciso também para superar os desafios estruturais enfrentados diariamente. Muitos educadores trabalham em instituições com infraestrutura precária, falta de materiais didáticos e ausência de equipes multidisciplinares. Essas condições dificultam a prática pedagógica e comprometem o aprendizado dos alunos.

Além disso, professor enfrenta demandas que vão além da sala de aula. Ele lida com contextos sociais diversos, alunos em situações de vulnerabilidade e pressões por resultados que muitas vezes desconsideram os desafios da realidade escolar. Dar voz ao professor significa reconhecer que sua função não se limita à transmissão de conteúdo, mas também inclui o papel de mediador, conselheiro e agente transformador.

O conceito de habitus, segundo Bourdieu, nos ajuda a compreender que as escolhas e ações dos professores são influenciadas pelas condições objetivas em que trabalham. Quando essas condições são adversas, o impacto na qualidade do ensino é inevitável. Sendo assim, melhorar as estruturas escolares e o acesso a materiais e ferramentas educacionais é essencial para criar um ambiente onde os professores possam desempenhar suas funções plenamente.

Por exemplo, a presença de psicólogos experientes na área educacional, orientadores educacionais e assistentes sociais pode aliviar a carga de trabalho do professor, permitindo que ele se concentre em seu papel principal: ensinar. Além disso, é fundamental investir em tecnologia e recursos didáticos que facilitem a aprendizagem.

É importante lembrar sobre o valor que uma boa escuta no campo educacional. Esta deve passar pelos gestores da instituição escolar, pelos profissionais técnicos como os psicólogos, orientadores educacionais, assistentes sociais, professores e demais profissionais envolvidos.

Infelizmente, na maioria das escolas brasileiras o professor não tem o suporte de profissionais técnicos que possam ouvi-los e orientá-los em como agir ou reagir a determinadas situações em sala de aula que vão além do ensino de conteúdo. Isso envolve também o não atendimento adequado aos alunos com dificuldades as mais diversas. E o que dizer do atendimento às  famílias desses estudantes?!

Dar voz ao professor é valorizar a profissão docente

Valorizar a profissão docente é uma necessidade urgente. Dar voz ao professor é preciso para que ele possa participar ativamente das decisões que moldam a educação. Sem a participação ativa dos docentes, as reformas educacionais correm o risco de serem desconectadas da realidade das salas de aula.

É necessário destacar que o trabalho do professor não termina na sala de aula. Há um grande esforço nos bastidores: planejamento de aulas, elaboração de materiais, correção de provas e acompanhamento individualizado dos alunos. Contudo, a sociedade muitas vezes ignora essas atividades, contribuindo para a desvalorização da carreira docente.

Além disso, o desgaste emocional é um fator preocupante. Professores lidam diariamente com a diversidade de alunos, cobranças externas e a pressão por resultados. Reconhecer esses desafios é essencial para promover políticas públicas que ofereçam suporte à saúde mental e emocional dos educadores.

Pesquisas apontam que os cursos de licenciatura voltados para a educação nas universidades têm a cada ano sofrido um esvaziamento. Desta forma, o resultado a curto e longo prazo é preocupante, pois já se fala na falta desse profissional em grande escala daqui a poucas décadas. Isso deve soar como um alerta aos nossos governantes, sejam eles municipais, estaduais e federais.

 Algumas considerações

Dar voz ao professor é preciso para garantir que sua experiência e conhecimento contribuam para uma educação de qualidade. Valorizar a docência não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia fundamental para o desenvolvimento de qualquer nação. Como destacam os pesquisadores e escritores Pierre Bourdieu e António Nóvoa, reconhecer o habitus professoral e a importância do protagonismo docente é essencial para construir uma educação inclusiva e transformadora.

Referências

BOURDIEU, Pierre. A distincão: crítica social do julgamento. São Paulo: Zouk, 2007.

NÓVOA, António. Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.

Profa Dra Miriam Abreu

Autora

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima