A relação família x escola é uma das parcerias mais importantes para a construção de trajetórias pessoais, estudantis e profissionais. Portanto, o sucesso educacional de qualquer estudante não se dá unicamente pelos esforços da escola ou da família de forma isolada.
A importância dessa relação família x escola vai além dos impactos diretos no desempenho escolar, estende-se ao desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Estudos mostram que os resultados educacionais são mais eficazes quando de forma integrada, família x escola agem como coautores no processo formativo dos estudantes. Essa colaboração, no entanto, precisa ser contínua e renovada, sempre lançando mão de estratégias inovadoras a fim de vencerem os inúmeros desafios nesse processo. Para isso é muito importante respeitar os acordos, as dinâmicas sociais e culturais de cada contexto.
Sendo assim, compreendemos que essa colaboração é uma ferramenta poderosa que contribui para que sejam construídas trajetórias pessoais e profissionais bem-sucedidas. É nesse processo que os estudantes devem ser estimulados a alcançarem o máximo de seu potencial preparando-os para os desafios da vida adulta.
Neste artigo, trataremos dessa importante relação, analisando como essa parceria pode influenciar positivamente a trajetória educacional de estudantes/filhos e o papel de cada um dos envolvidos nesse processo.
1.O contexto histórico da relação família x escola
Historicamente, a educação era responsabilidade primária da família, que transmitia valores, normas e conhecimentos. A formalização do ensino, com a criação das instituições escolares, gradualmente deslocou essa responsabilidade para a escola.
No entanto, essa mudança não eliminou a importância da família no processo educativo, apenas diversificou os papéis. De acordo com Bourdieu (1984)[1], a escola desempenha um papel socializador secundário, enquanto a família continua a ser um espaço de formação de habitus e valores fundamentais. O autor destaca ainda que é no espaço familiar que acontece a socialização primária, ou seja, a família é o primeiro grupo social do qual fazemos parte. Já a escola é o espaço da socialização secundária. Conclui-se assim que a importância da família nos remete à gestação de cada filho. Tudo começa ainda no útero materno.
Com o tempo, o conceito de uma educação compartilhada entre escola e família foi ganhando destaque. É evidente para todos aqueles que vivenciam o campo educacional diariamente que essa colaboração entre essas duas instituições reflete diretamente no desempenho escolar dos estudantes estimulando-os a um maior engajamento nas atividades escolares e, consequentemente contribuindo para a redução da evasão escolar. Nesse sentido, inúmeras pesquisas na área educacional confirmam essa afirmativa.
O que se observa na sociedade contemporânea é um desvirtuamento da verdadeira função da escola, tornando-se inadmissível, nesse contexto, a escola ser vista como a principal responsável pela educação dos estudantes. Definitivamente, a família precisa fazer um retorno à sua função primária que é educar as suas crianças e adolescentes, transmitindo valores e princípios fundamentais à boa convivência social.
Além do mais necessita reformatar os seus habitus familiares (suas práticas familiares), pois estes são internalizados por seus filhos e externalizados nos ambientes escolares e outros grupos sociais. É urgente um alinhamento da escola com a família para a construção de uma educação de qualidade. O diálogo é o caminho inicial.
2.O papel da família e o sucesso educacional de seus filhos
Antes de mais nada, precisamos ter a clareza de que a família exerce um papel essencial no desenvolvimento emocional e cognitivo de seus filhos. Desde a gestação e por anos a fio, os pais são os primeiros educadores, oferecendo estímulos, estabelecendo rotinas e transmitindo princípios e valores a seus filhos. O envolvimento da família com o ambiente escolar, proporciona uma melhor conexão das crianças e adolescentes com a aprendizagem, por lhes proporcionar mais segurança.
Diversas pesquisas demonstram que estudantes cujas famílias participam ativamente da vida escolar de seus filhos, tendem a apresentar melhores resultados escolares. Isso inclui, por exemplo, participar de reuniões escolares, monitorar o progresso dos filhos, auxiliar nas atividades de casa como tarefas, pesquisas e estabelecer um ambiente familiar favorável ao aprendizado. Além disso, a presença dos pais no cotidiano escolar transmite a mensagem de que a educação é uma prioridade, o que tende a aumentar o comprometimento e a motivação dos estudantes.
Contudo, os desafios da sociedade moderna e os impactos das novas tecnologias em todos os lares têm muitas vezes limitado o tempo que os pais dedicam à educação de seus filhos. Os resultados desse distanciamento quanto ao acompanhamento escolar por parte dos pais têm gerado resultados nada animadores no campo educacional, uma vez que a função da escola é trabalhar com a educação formal de maneira organizada por meio de seus currículos e com a certificação de seus estudantes. Claro que, também, faz parte de seu dia a dia a transmissão de valores, como respeito, responsabilidade, etc.
Em contrapartida a função da família é educar seus filhos proporcionando a eles as condições necessárias para o seu bom desempenho escolar e esta deve ser uma tarefa diária. Há que se destacar que a qualidade do envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos é mais significativa do que a quantidade de tempo dispensado a eles.
Nesse sentido, é importante lembrar que algumas práticas simples podem gerar resultados muito positivos na trajetória dos filhos como: perguntar como foi o seu dia na escola, o que aprendeu, quais as dificuldades que está encontrando na aprendizagem, etc. A demonstração de interesse pelo que os filhos estão fazendo e os estímulos positivos proporcionam a construção de uma trajetória educacional mais leve e promissora.
Outro aspecto importantíssimo que deve sempre ser levado em consideração é a família x escola como parceria de sucesso, pois o espaço educacional onde filhos circularão é a escola, também.
3. O papel da escola na relação família x escola
Do mesmo modo que a família tem um papel fundamental na educação, a escola, por sua vez, deve funcionar como mediadora, facilitando o envolvimento parental. Algumas ações por parte da instituição são necessárias:
3.1 Abertura para o diálogo:
Para que a parceria entre família x escola seja efetiva, é necessário a adoção de uma postura aberta ao diálogo, promovendo a inclusão dos pais nas tomadas de decisões, nas atividades escolares e na vida escolar de seus filhos. É óbvio que cada instituição deve ter a clareza de suas funções. A isso chamamos de compartilhamento de responsabilidades o que motiva o surgimento do sentimento de pertencimento. Afinal, toda responsabilidade compartilhada produz mais leveza durante o processo.
Ainda nesse sentido, Epstein (2009)[2], aponta-nos que as escolas precisam ir além das formas tradicionais de comunicação, como reuniões semestrais, e investir em canais mais dinâmicos e contínuos, como aplicativos, boletins digitais, plataformas online e eventos presenciais para aproximar a família da realidade escolar.
3.2 Suporte e orientação às famílias:
Também é papel da escola oferecer suporte e orientações às famílias sobre como contribuírem de maneira mais eficiente para o desenvolvimento escolar de seus filhos. Não se trata apenas de apoiar no dever de casa, mas de incentivar um ambiente de leitura, conversas sobre o dia a dia escolar e o desenvolvimento de habitus saudáveis. Algumas práticas podem ser adotadas pelas escolas visando a inclusão familiar para melhorar o engajamento familiar e, consequentemente, melhorar desempenho dos estudantes. Daí a importância da presença de profissionais técnicos no grupo de profissionais de toda instituição escolar, como: orientador educacional, psicólogo escolar e assistente social. Muitas são as demandas em nossa sociedade e, principalmente, no campo educacional e não podemos delegar a amadores a responsabilidade quanto ao trato de questões familiares e escolares que necessitem de uma análise e orientações técnicas.
Claro que, em sua maioria, a realidade que gestores e professores experimentam no seu dia a dia escolar é a ausência da família nas principais reuniões de pais e responsáveis, dificultando assim, a aproximação desses profissionais daqueles responsáveis onde os filhos necessitam de mais atenção em relação a aprendizagem, às questões afetivas e relacionais. Mais uma vez, necessário se faz afirmar que a escola sozinha não tem condições de proporcionar a construção de trajetórias escolares bem-sucedidas a seus estudantes que não possuem um engajamento familiar no processo educacional de seus filhos. A família precisa desejar e efetivamente participar dessa construção.
3.3 Estratégias para melhorar a conexão entre família x escola:
Diante do acima exposto podemos observar algumas estratégias que podem contribuir para uma melhor conexão entre e escola e família. Claro que isso requer planejamento e esforço contínuo das duas instituições. Porém, essa relação família x escola como parceria de sucesso deve ser o foco de todo espaço espaço educacional, no caso a escola. Vejamos:
Comunicação constante:
Escola e família devem manter um diálogo aberto e regular. Hoje podemos contar com ferramentas digitais, como plataformas educacionais, aplicativos que podem facilitar essa comunicação permitindo aos pais o acompanhamento do progresso de seus filhos;
Programas de formação para pais:
Oferecer workshops, palestras sobre temas relacionados à educação pode ajudar as famílias a compreenderem melhor como apoiar seus filhos no processo de aprendizado;
Participação em atividades escolares:
Convidar os pais para eventos como gincanas, feiras de ciência, festa das nações e reuniões escolares pode estreitar essa relação família x escola;
Apoio psicológico e pedagógico:
Suporte técnico de orientadores educacionais, psicólogos educacionais e outros profissionais é essencial para ajudar as famílias a lidarem com questões conflitantes em relação aos filhos.
Enfim, essas estratégias podem contribuir para um melhor desempenho escolar, maior assiduidade e permanência escolar, melhor adaptação na escola e um melhor desenvolvimento socioemocional.
Outro desafio recorrente é o equilíbrio das expectativas entre família e escola. Muitas vezes, a família espera que a escola supra todas as necessidades educativas dos filhos, enquanto que os educadores, esperam um maior engajamento familiar. Para superar esses desafios, é fundamental estabelecer uma comunicação clara e transparente, além de definir papéis e responsabilidades de forma colaborativa.
Algumas considerações
Enfim, a relação família x escola como parceria de sucesso é um dos pilares mais importantes para o campo educacional. Quando ambas as partes trabalham juntas, compartilhando responsabilidades e buscando soluções em conjunto, o estudante é o principal beneficiado.
A integração da educação formal da escola com o suporte emocional e social da família, propicia o desenvolvimento pleno da criança e do adolescente.
Construir essa parceria, no entanto, requer esforço e dedicação de ambas as partes. Tanto a escola quanto a família precisam estar dispostas a dialogar, colaborar e se adaptar às mudanças e desafios ao longo da trajetória educacional. Com essa união, a educação se torna mais eficiente e os estudantes têm mais condições de construírem suas trajetórias pessoais, familiares e profissionais bem-sucedidas.
Referências
[1] BOURDIEU, P. (1984). Distinção: Uma crítica social do julgamento de gosto. Imprensa da Universidade de Harvard.
[2] EPSTEIN, JL (2001). Parcerias escola, família e comunidade: Preparando educadores e melhorando as escolas. Imprensa Westview.
Profa Dra Miriam Abreu
Autora
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